Nota da Direcção do Sector Intelectual da Organização Regional de Lisboa do PCP

Sobre o falecimento Maria Velho da Costa

Maria de Fátima Bivar Velho da Costa nasceu em Lisboa a 26 de Junho de 1938 e faleceu nesta mesma cidade a 24 de Maio de 2020.

Licenciada em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; deu aulas no ensino secundário; foi presidente da Associação Portuguesa de Escritores, de 1975 a 1977; leitora no Departamento de Português do King's College, entre 1980 e 1987; adjunta do Secretário de Estado da Cultura, em 1979; adida cultural em Cabo Verde, de 1988 a 1990. Trabalhou no Instituto Camões e colaborou como argumentista com os cineastas João César Monteiro, Margarida Gil e Seixas Santos.

Em 1969 publica Maina Mendes, reconhecido como um dos relevantes e originais romances portugueses da 2.ª metade do século XX; em 1972, com Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta, assina parte dos textos de Novas Cartas Portuguesas, tendo por matriz as Cartas de Mariana Alcoforado. Maria Velho da Costa e as outras duas escritoras estariam longe de imaginar o torvelinho que a publicação do livro iria provocar no país sisudo, amargo e triste de Salazar e Caetano.

Seguiram-se processos-crime, audiências e toda a parafernália de acções de cerco e ameaças que o poder fascista usava em casos que tais. A Revolução de Abril poria fim a mais este funesto episódio.

No livro Cravo, Maria Velho da Costa incluirá o poema Revolução e Mulher, no qual define com clareza o papel e a igualdade da mulher numa sociedade livre: «Elas diziam tu às pessoas com estudos / e aos outros homens / Elas iam e não sabiam para onde, mas iam (...) Elas aprenderam a mexer nos livros de contas / e nas alfaias das herdades abandonadas / Elas dobraram em quatro um papel / que levava dentro uma cruzinha laboriosa.»

Do acervo literário de Velho da Costa, convém reter (e ler ou reler), títulos como Casas Pardas, Da Rosa Fixa, Lucialima e esse incontornável Missa In Albis.

Maria Velho da Costa recebeu, em 2000, o Grande Prémio da APE, pelo romance Irene ou o Contrato Social e o Prémio Camões, em 2002.

A História da Literatura Portuguesa fixará o nome de Maria Velho da Costa como uma das mais fecundas e inovadores vozes da nossa ficção.

A Direcção do Sector Intelectual da Organização Regional de Lisboa do PCP transmite à família o seu pesar pelo falecimento de Maria Velho da Costa.

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