Propósito: o que é e qual a sua importância nas organizações?

 

«O propósito da organização é a autenticidade da razão de existir, vai além da missão que define o caminho.»


Por Célia Losa Margato, gestora, consultora, formadora, coach e facilitadora de felicidade

 

Propósito é a “palavra mágica” que, traduzida em acção, faz florescer as pessoas e as organizações, potenciando o seu sucesso. Resulta de uma evolução e escolha, que geralmente não fazemos porque, enquanto líderes da nossa própria vida ou em trabalho, não temos consciência do poder de alcance que produzimos ao dar sentido ao que somos e, por conseguinte, ao melhor que fazemos quando em sintonia com a nossa jornada existencial, pessoal ou profissional.

Também eu não tive a consciência do meu propósito, trabalhei-o em mim quando percebi o poder que tinha e que estava limitado por não me conhecer. Hoje não tenho dúvidas do impacto da minha decisão, pelo meu bem, dos que me acompanham e de outros que virão.

Após a minha licenciatura em gestão, andei mais de 20 anos em funções empresariais e nunca ouvi um líder falar convictamente a palavra propósito para dar sentido ao que as pessoas faziam em contexto de trabalho, fosse pela perspectiva pessoal ou contribuindo na organização.

Claro que o ADN das empresas é geralmente tido como importante: a identidade e marca, a envolvente interna e externa, a missão, visão e valores… O “receituário” da boa gestão é bem aplicado pelos líderes e gestores, com as melhores intenções de sucesso. Só que cada pessoa na organização só absorve e contribui na medida que o assunto lhe toca e, às vezes, por obrigação ao invés de motivação, umas mais que outras, conforme a emoção do momento.

Então, porque é que, se as empresas se gerem como mandam as boas práticas das ciências empresariais, não criam um clima que potencie empenho, criatividade, produtividade, performance, resultados, lucros… Porquê?

Na busca da resposta, há alguns anos tornei-me estudiosa da psicologia positiva aplicada e de outros saberes do desenvolvimento humano e organizacional. Foi neste contexto que clarifiquei o que é essencial para a melhor realização humana e organizacional, mas que tende a faltar na acção, por mais eficaz que ela seja para potenciar os objectivos e alavancar estratégia.

As empresas podem claramente ajudar as suas pessoas a florescer, criando condições para que se desenvolvam no encontro consigo mesmo. Há metodologias humanas e técnicas! Pessoas autênticas dão realmente o seu melhor em tudo o que fazem e como se relacionam, na vida pessoal como no seu trabalho.

Quando temos pessoas com propósito, alinhadas entre si e, por sua vez, com o propósito da empresa, então temos a situação ideal, tendencialmente a mais perfeita para alcançar os objectivos. O propósito é a “essência” da felicidade, tanto das pessoas como das empresas!

Se a existência e realização em sucesso de cada empresa depende das suas pessoas, logo, assim sendo, tudo o que é individual é ampliado na perspectiva de uma organização. Qualquer estrutura de pessoas com uma missão, deve ter uma consciência colectiva do propósito na acçã. Só assim cada pessoa pode alinhar a sua individualidade com o que esperam dela e vice-versa.

O propósito da organização é a autenticidade da razão de existir, vai além da missão que define o caminho. O propósito existe porque há algo maior e a bem de todos, absolutamente todos os que com ele se relacionam, que no dia-a-dia motiva e inspira a atividade de negócio ou outra, que dá sentido à missão!

Que marca deixaria a sua empresa se ela acabasse agora? Que legado deixaria pelo histórico que constrói na sociedade? As perguntas são uma forma de reflexão, mas é importante que tenhamos uma resposta.

Se a sua empresa não tem o propósito bem definido, tudo de bom que se faz na gestão pode divagar em linhas orientadoras menos eficazes, porque o propósito da organização, para ter um efeito “mágico” de alavanca, tem de criar emoções! Falo delas porque as emoções são a energia humana mais capaz de fazer acontecer o ponto óptimo de qualquer escala de objectivos. E assim potenciar o que resulta da estratégia. As emoções são também alicerce da felicidade e a felicidade deve ser componente na estratégia, porque o propósito é felicidade!

Uma empresa que se desenvolve, estruturalmente e na sua actividade pela força do propósito, que ajuda as suas pessoas a desenvolverem-se por si mesmo nesse alinhamento, floresce do individual ao colectivo, é realizadora e realiza, é o melhor de si, porque é ela a laborar na sua razão de ser.

De anotar que, por maior que seja a tentação, as empresas felizes e melhor sucedidas, não têm o lucro como propósito. A felicidade é lucrativa, sim, mas como consequência do propósito, a razão de ser da empresa como valor agregado para as pessoas, a sociedade e o mundo.

Lucro é realmente uma condição necessária para a existência e um meio de se atingir objectivos mais importantes, mas não é o objectivo em si para as empresas visionárias. «Os lucros são como o oxigénio, a comida, a água e o sangue para o corpo; eles não são o sentido da vida, mas sem eles não há vida.»

 

Na minha perspectiva, qualquer metodologia que potencie o sucesso, só é eficaz e completa se tiver propósito em todo o processo de educação e transformação da cultura interna, estrategicamente para a felicidade.

A par do propósito, sugiro as habilidades da felicidade aliadas aos valores que guiam os comportamentos e a prática da atenção plena. Sugiro também que se definam e pratiquem hábitos positivos adequados ao sentido existencial da organização, alinhando o individual.

Cada empresa pode conseguir a prosperidade e marca para um legado que deseja, desde que o seu foco esteja nas pessoas e em tudo o que as envolve, nomeadamente a sociedade e o mundo que permite a existência de todos, sendo cada um quem é.

Quer mais envolvimento, produtividade, inovação, performance, resultados, lucros? Pode conseguir! Qual é o propósito da sua empresa?

 

 

 

 

 

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