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Thiago Gonçalves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O que tem por trás desta imagem que inspira outra forma de fazer ciência?

Imagem em infravermelho da constelação de Camaleão. Novas estrelas nascem nas nuvens coloridas de gás e poeira vistas aqui - ESO/ Meingast et al.
Imagem em infravermelho da constelação de Camaleão. Novas estrelas nascem nas nuvens coloridas de gás e poeira vistas aqui Imagem: ESO/ Meingast et al.

17/05/2023 04h00Atualizada em 17/05/2023 16h44

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Uma equipe internacional de cientistas liderada por Stefan Meingast, da Universidade de Viena, na Áustria, divulgou na semana passada algumas das imagens infravermelhas mais completas já obtidas de berçários estelares na nossa vizinhança.

O projeto, que observou as regiões nebulares de Órion, Ofiúco, Camaleão, Coroa Austral e Lupus, contou com 50 horas do telescópio Vista, do Observatório Europeu do Sul, e combinou mais de 1 milhão de fotos individuais, correspondendo a quase 20 terabytes de dados.

Os berçários estelares são grandes nuvens de gás e poeira a partir do qual novas estrelas se formam. Dessa forma, ao estudar essas regiões, esperamos entender melhor o processo de nascimento de estrelas, investigando diretamente as estrelas mais jovens e o meio a partir do qual se formam.

É interessante ressaltar a importância do tipo de radiação observada. Ao obter imagens no infravermelho, os astrônomos puderam diminuir o problema causado pela grande quantidade de poeira nessas nuvens, que bloqueia a luz visível produzida pelas estrelas no seu interior. Assim, podemos obter diretamente informações sobre o que acontece no coração dessas nuvens.

Além de uma composição detalhada, cobrindo desde o centro das regiões até as suas bordas, o projeto contou também com a cobertura temporal: ao observar as estrelas durante cinco anos, entre 2017 e 2022, a equipe foi capaz de observar o seu movimento, caracterizando ainda melhor os processos físicos no interior das nuvens.

Dessa maneira, o projeto também serve como complemento ao satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia. Embora o Gaia consiga determinar o movimento de estrelas em nossa galáxia com maior precisão, sua câmera visível não é capaz de atravessar a camada de poeira e observar o interior de berçários estrelares.

Um ponto interessante deste projeto é o seu caráter comunitário: ele é o que chamamos de levantamento público.

Ao invés de obter dados que serão utilizados apenas pela equipe científica original, ele produz imagens e catálogos de dados disponíveis para qualquer um que queira acessá-los pela internet.

Assim, embora seja um investimento de recursos relativamente alto — afinal, foram muitas noites de um telescópio relativamente grande — o retorno esperado também é elevado.

Cientistas de todo o mundo podem usar os dados de formas diferentes, aumentando muito o potencial de descobertas das imagens.

Essa forma de fazer ciência vem se tornando cada vez mais popular desde o início do século XXI. Administradores e políticos notaram que esse modelo é capaz de produzir muito mais resultados em um determinado período, permitindo o livre desenvolvimento de ideias a partir do mesmo conjunto de observações.

Seria esse o caminho do futuro, tornando a troca de informações entre cientistas cada vez mais livre?

Sem dúvida é um caminho democrático, que ajuda a derrubar barreiras que impedem o acesso de pesquisadores de países com menor acesso a recursos aos dados dos mais avançados telescópios.