Topo

Felipe Zmoginski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Uso de moto em crimes assusta, mas dá para evitar com esta solução chinesa

Homem em moto rouba celular de mulher que saiu para passear com o cachorro na Vila Leopoldina, zona oeste da cidade de São Paulo - Divulgação/Cosecurity
Homem em moto rouba celular de mulher que saiu para passear com o cachorro na Vila Leopoldina, zona oeste da cidade de São Paulo Imagem: Divulgação/Cosecurity

28/04/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Uma lenda urbana paulistana conta a história de uma moça que, ao voltar para a casa a pé, tarde da noite, tremeu de medo ao ver um vulto aproximando-se. Quando, enfim, visualizou a figura por trás da sombra, tranquilizou-se: era apenas o diabo. "Fiquei com medo que fosse uma moto com garupa", explicou-se para o capeta.

A história ilustra um medo muito comum entre nós, brasileiros: a violência urbana, muitas vezes perpetrada por bandidos que fazem uso de motos ou bicicletas para cometer roubos rápidos e fugir.

Na China, motos e bicicletas também estão sob suspeição das autoridades locais, não por roubos, já que os índices de segurança no país são altos, mas por conta das incontáveis infrações de trânsito cometidas pelos entregadores de comida de apps de delivery e afins.

Em grandes cidades chinesas, como Pequim, motos de alta cilindrada são proibidas ou têm seu uso muito restrito.

Bicicletas e motos elétricas, no entanto, são altamente populares.

Como ocorre em muitas grandes cidades, bikes e outros veículos não motorizados são isentos de usar "chapa", o que na prática é um sinal verde para infrações. Sobretudo entre os superexplorados e sobrecarregados entregadores de e-commerce e comida, em constante luta contra o relógio.

Para inibir ciclistas na contramão, viajando sobre calçadas ou fazendo conversões proibidas, a prefeitura de Pequim anunciou que obrigará todas as bikes e motos elétricas da cidade a usar chips de rastreamento e monitoramento.

Na prática, busca-se disciplinar uma parte importante dos veículos da mobilidade urbana local que têm passado impunes de multas de trânsito.

A prefeitura local afirmou que haverá um tempo para transição, mas que no futuro todos os apps de delivery deverão usar entregadores devidamente equipados com chips de monitoramento, para que suas viagens possam ser fiscalizadas pelas autoridades locais.

Assim como as câmeras de reconhecimento facial chinesas, que leem os rostos de indivíduos nas ruas e cruzam suas identidades com bancos de dados de criminosos procurados, o monitoramento em tempo integral de motos e bikes é tema controverso. Afinal, ambas as políticas privilegiam o interesse do Estado em relação às liberdades individuais, como a de ir e vir sem ser monitorado.

Em grandes cidades brasileiras, como Rio e São Paulo, no entanto, é possível projetar o impacto relevante que tais tecnologias teriam para o combate à criminalidade.

São conhecidos, por exemplo, os casos de criminosos que se cadastram em plataformas de entrega, para ao fazer uso das malas de iFood e Rappi evitarem a atenção da polícia, bem como abordarem suas vítimas fazendo uso do elemento surpresa.

A posição geográfica de uma bicicleta em uma área em que ocorreu um assalto cometido por ciclista poderia ajudar a polícia a identificar o criminoso.

Obviamente, há que se pensar que "criminosos de verdade" tentariam arrancar os chips de suas motos ou usar técnicas para impedir o correto monitoramento. Neste caso, um veículo circulando sem chip ou com chip alterado seria, naturalmente, um suspeito a ser investigado.