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Depois de mudar nome para Meta, Facebook não vê tanto metaverso no futuro

Mark Zuckerberg, CEO da Meta (ex-Facebook) - Anthoyn Quintano/Wikimedia Commons
Mark Zuckerberg, CEO da Meta (ex-Facebook) Imagem: Anthoyn Quintano/Wikimedia Commons

Simone Machado

Colaboração para Tilt, em São José do Rio Preto (SP)

19/03/2023 04h00Atualizada em 20/03/2023 12h45

Em 2021 o Facebook mudou o nome para Meta, oficializado o plano obsessivo de Mark Zuckerberg de popularizar o metaverso (mundo virtual e avatares). Corta para 2023. Em meio a anúncios de demissões de 21 mil funcionários, o executivo tem falado pouco sobre a maior revolução na maneira como interagimos online desde a invenção do celular — segundo ele mesmo.

Os objetivos públicos divulgados pela Meta recentemente sequer citam a tecnologia. "Nosso foco para este ano é em inteligência artificial, mensagens, criadores e monetização", diz o grupo.

Duas únicas menções ao metaverso foram usadas em carta de Mark Zuckerberg enviada aos funcionários da Meta — quase uma semana depois — com pouco mais de 2.240 palavras. Foram usadas para destacar o trabalho pioneiro no setor como parte central para definir o futuro da conexão social. E exemplificar tecnologias avançadas aplicadas a produtos.

O que está acontecendo?

1. Menos dinheiro

Em 2022, Zuckerberg caiu 14 posições na lista das pessoas mais ricas do mundo, segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg, com queda em seu patrimônio de US$ 70,2 bilhões no acumulado do ano.

Esse foi só mais um capítulo dentro da "pior crise" que a Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp) tem enfrentado, segundo o próprio CEO. O conglomerado já perdeu em torno de US$ 230 bilhões em valor de mercado.

Após tantas perdas, a Meta anunciou em novembro a primeira rodada de demissões, totalizando 11 mil funcionários, cerca de 13% de seu quadro total. Nessa semana, mais um anúncio: 10 mil pessoas serão desligadas até o final do ano, e novas vagas estão congeladas.

2. Melhor surfar na onda mais concreta

A decisão de priorizar a inteligência artificial foi acelerada pelo funcionamento avançado do robô de conversas ChatGPT, da empresa OpenAI, em novembro do ano passado. A novidade chamou a atenção do mercado, de investidores e da população para as inovações em IA, e parece ter obrigado a Meta a também se voltar para o tema.

"Nossos investimentos em inteligência artificial estão criando novas maneiras para as pessoas descobrirem conteúdos relevantes no Facebook e compartilhá-los com aqueles que gostam. À medida que nossas equipes de pesquisa na Meta AI continuam a fazer avanços em AI, particularmente AI generativa, o Facebook - e a Meta de forma mais ampla - procurará levar essa tecnologia transformadora a bilhões de pessoas e permitir que criem e compartilhem de novas maneiras", diz postagem da Meta.

Esse distanciamento do metaverso nesse momento é justamente uma estratégia, mostrando que o metaverso é algo para o futuro e a IA para o agora Diogo Cortiz, especialista em inteligência artificial, professor da PUC-SP e pesquisador do NIC.br.

3. Metaverso ainda é confuso

Investidores (que poderiam liberar altos investimentos para o metaverso) ainda estão confusos sobre como a tecnologia realmente vai funcionar em massa e quando isso acontecerá, dizem os entrevistados.

Ainda não temos tecnologia adequada para esse metaverso que foi proposto Ana Paula Gonçalves Serra, coordenadora de Ciência da Computação e Sistemas de Informação do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT)

Zuckerberg visou o metaverso com a pretensão de que essa tecnologia seria implantada de forma rápida, mas não aconteceu. Ângelo Sebastião Zanini, coordenador de Engenharia de Computação do IMT

Para ser metaverso é preciso investir fortemente em equipamentos como óculos, inteligência artificial, realidade aumentada, realidade virtual. Muito disso ainda está em desenvolvimento e ainda é muito caro para a grande massa, restringindo seu acesso.

4. Dificuldade para conquistar o público

O metaverso ainda é uma tecnologia empurrada, que é quando alguém tem que fazer muita força e tentar convencer as pessoas de que aquilo, de fato, é incrível. É o contrário de outras tecnologias, como o ChatGPT, que o público se interessa de forma espontânea Arthur Igreja, especialista em tecnologia.

5. Metaverso ainda não está morto

A futurista estadunidense Amy Webb, referência no setor por detalhar tendências de tecnologia para os próximos anos, prevê que o metaverso ainda será uma tecnologia em pauta a longo prazo. Por enquanto só é preciso ter cautela.

Tudo que envolve tecnologias espaciais e imersivas está em desenvolvimento e em disputa relatório Tech Trends 2023, de Amy Webb

A previsão é de que, de forma geral, a criação de avatares para representar pessoas em universos virtuais será múltipla. Ou seja, você não terá um único avatar no metaverso, mas vários, cada um com um objetivo específico.

"Isso levará à fragmentação, e a uma lacuna cada vez maior entre quem uma pessoa é no mundo físico e em quem ela se projeta para estar em várias plataformas", aprofunda o documento.

Por isso, o texto ressalta que o aumento da presença humana em espaços virtuais exige mais debates sobre limites éticos no uso da tecnologia.

*Com informações Aurélio Araújo, em colaboração para Tilt.