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Como aposentados da Nasa ajudaram a salvar o telescópio Hubble

Telescópio Hubble ficou offline por mais de um mês após pane misteriosa em sistema - Divulgação/Nasa
Telescópio Hubble ficou offline por mais de um mês após pane misteriosa em sistema Imagem: Divulgação/Nasa

Alexander Freund

25/09/2021 04h00

Em junho, um dos computadores do telescópio espacial parou de funcionar, após 31 anos de espetaculares imagens de galáxias distantes. Para reativá-lo, a Nasa precisou convocar quem presenciou os primórdios do projeto. Parece coisa de Hollywood.

Há 31 anos o telescópio Hubble orbita a Terra a cerca de 550 quilômetros de altura, fornecendo imagens fascinantes de estrelas e galáxias distantes. Originalmente, a missão da Nasa deveria durar apenas 15 anos, mas o espião sideral continua voando, já tendo enviado até agora 1,5 milhão de fotos para a Terra.

Até que, em 13 de junho de 2021, parou de funcionar o chamado computador de carga útil (payload computer), que controla e coordena os instrumentos científicos a bordo do observatório. Quando ele parou de enviar dados ao computador principal, este colocou automaticamente em estado de hibernação todo o equipamento científico. Todas as tentativas da equipe de solo de reinicializar a unidade desativada através do computador principal, fracassaram.

Em princípio, não havia motivo para pânico: afinal, justamente para casos extremos, todos os componentes importantes do Hubble existem em duplicata. Então, também o equipamento desativado tinha seu backup, que fora substituído durante a última missão de manutenção do Hubble, em 2009. Mas, em se tratando de um computador desses, não se pode simplesmente apertar o botão de ligar.

O que fazer com uma fita cassete e um disquete?

Como é possível que, na altamente tecnológica Nasa, ninguém mais saiba como os aparelhos funcionavam, antigamente? É como se alguém achasse uma velha caixa no porão cheia de lembranças de infância, entre as quais uma fita cassete com suas canções preferidas e um disquete. Enquanto a pessoa se pergunta quem ainda teria um gravador cassete e um leitor de disquete, seu netinho não tem a menor ideia de o que sejam aqueles estranhos cacarecos de plástico.

Esse exemplo banal serve para ilustrar a rapidez com que a tecnologia se transforma e, com ela, o conhecimento técnico para usá-la ou repará-la. E, no caso da operação de salvamento da Nasa, qualquer erro poderia ter significado o fim irreversível da missão Hubble.

Por via das dúvidas, Nzinga Tull, diretora da equipe de emergência do observatório, reuniu também antigos engenheiros que colaboraram no projeto. Afinal, como reconhece a Nasa, para consertar um telescópio espacial construído na década de 1980, eram necessários os conhecimentos de todos os envolvidos na história do Hubble.

"A cooperação foi inspiradora"

Mais de 50 indivíduos participaram da operação de salvamento de duas semanas. Primeiro, os antigos e novos membros da equipe estudaram juntos a lista dos possíveis pontos fracos, a fim de tentar delimitar o problema.

Alguns veteranos da Nasa, que colaboraram na construção do telescópio, ainda conheciam a velha unidade de processamento de comandos e dados do computador de carga útil. Outros aposentados encontraram na documentação original do Hubble, datando de 30 a 40 anos atrás, as instruções necessárias a contornar a pane.

"Essa é a vantagem de um programa que corre há mais de 30 anos: o incrível volume de experiência e conhecimento especializado", comenta Tull. "Foi inspirador cooperar tanto com a equipe atual como com os que passaram a outros projetos. Eles mostram tanta dedicação por seus colegas do Hubble, pelo observatório e a ciência!"

Passo a passo, a inicialização do computador foi calculada num simulador do centro de controle da Nasa. Unindo todas as forças, o computador de backup pôde ser ativado com sucesso em 15 de julho, após uma pausa de cinco semanas.

Dois dias mais tarde, os instrumentos voltaram a fornecer fascinantes imagens de pontos distantes do espaço sideral. Na primeira delas, veem-se duas galáxias que acabaram de se fundir na constelação de Capricórnio, com três braços - tudo graças à cooperação dos aposentados da Nasa.