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Editores pedem apoio financeiro urgente aos Estados-membros da União Europeia

Os ministros da Cultura de todos os países da União Europeia vão reunir-se amanhã, através de vídeo conferência, para discutir o impacto da pandemia da Covid-19, nos setores cultural e criativo.
7 Abril 2020, 20h13

A federação europeia de editores dirigiu esta terça-feira uma carta aos ministros da Cultura da União Europeia, que se reúnem na quarta-feira, alertando para a “gravosa situação” do setor livreiro e solicitando apoio financeiro para aliviar os efeitos da crise.

Os ministros da Cultura de todos os Estados-membros da União Europeia vão reunir-se na quarta-feira, 08 de abril, através de vídeo conferência, para discutir o impacto da pandemia da Covid-19, nos setores cultural e criativo.

A anteceder esta reunião, o presidente da Federação Europeia de Editores (FEP) elaborou uma carta, na qual alerta para a “gravosa situação do setor do livro na Europa” e apela “à concretização de medidas urgentes para proteger aquela que é a principal indústria cultural no continente europeu”, informou hoje a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL).

Nessa missiva, Rudy Vanschoonbeek chama a atenção para a queda de 25% no volume de negócios prevista para 2020, e apela a um apoio financeiro direto à cadeia de produção e distribuição do livro, que permita, desde já, aliviar os efeitos mais imediatos da crise.

O representante dos editores pede ainda à União Europeia que, para além das medidas adotadas transversalmente para todas as empresas, se comprometa a financiar integralmente o Programa Europa Criativa, integrando uma rubrica orçamental específica dedicada ao livro.

A atualização da Garantia Financeira dedicada aos setores criativos, de modo a cobrir as necessidades urgentes de liquidez das empresas na cadeia de valor editorial é outra das medidas requeridas, assim como assegurar que qualquer verba da UE destinada a ajudar a enfrentar a crise inclua fundos dedicados aos setores culturais, incluindo o do livro.

A intensificação dos investimentos públicos na compra de livros para as instituições, especialmente as bibliotecas, a fim de restaurar a sustentabilidade do setor, é mais outra proposta deixada ao Conselho Europeu.

Começando por assinalar que o setor do livro, “a primeira indústria cultural da Europa”, foi “terrivelmente atingido pela crise”, o presidente da FEP destaca que “os novos títulos foram cancelados (com consequências dramáticas para os autores, os tradutores e os editores) e as livrarias estão fechadas”.

Enquanto isso – destaca – os livreiros procuram soluções inteligentes para entregar livros e as vendas eletrónicas crescem, mas nada disto, em lugar nenhum, está perto de substituir as vendas perdidas em loja.

“O setor já sofreu uma perda acumulada de cerca de 25% do volume de negócios estimado para 2020”, afirma Rudy Vanschoonbeek na carta, à qual anexa uma primeira avaliação com base nas informações que a federação está a recolher junto dos seus membros.

A FEP sublinha que, apesar “das suas graves dificuldades financeiras e logísticas”, os editores europeus têm levado a cabo várias iniciativas para apoiar a sociedade e as suas comunidades, tais como campanhas de “leitura em casa”, medidas de apoio aos livreiros, ou suporte às escolas com conteúdos digitais e plataformas didáticas.

No entanto, “nos próximos dias e meses, para continuar a trazer benefícios à sociedade, o setor editorial necessita de uma ajuda concreta e urgente”, afirma o responsável, lançando o repto: “Exortamos todos os Estados-membros a apoiarem os seus autores, editores e livreiros com uma série de medidas”.

“Mas há também um papel para a União Europeia”, acrescenta, sublinhando a necessidade de “avançar rapidamente”, porque este setor “necessita tanto de medidas imediatas, a partir do orçamento nacional da UE existente, como de medidas a médio prazo para permitir que o setor recomece quando a situação mudar”.

O documento anexado à carta, que aponta uma estimativa do impacto da crise associada à pandemia da covid-19, revela “uma situação muito grave para a cadeia de valor do livro, em todos os países, com livrarias fechadas, fortes quedas nas vendas (não compensadas por aumentos nas vendas online e digitais) e editoras a adiar ou cancelar a emissão de novos títulos, bem como a recorrer a fundos de despedimento e outros instrumentos”.

Segundo o mesmo documento, as vendas estão a diminuir em todo o lado, em muitos locais entre 75% e 90%, e as atuais estimativas do impacto para todo o ano apontam para uma perda entre um terço e metade do volume de negócios anual – na hipótese de as coisas voltarem ao normal relativamente cedo.

Muitas empresas referem riscos de encerramento se não for prestado apoio adequado em breve, acrescenta o documento.

Comparando os dados disponíveis de todos os países, Portugal é um dos que se encontra em pior situação, demonstrando que “o mercado perdeu 78% na semana 12 [do ano], e na semana 13 as expectativas são de que o mercado perca mais de 85%”.

Os dados constantes deste documento foram recolhidos pela Gfk – entidade independente que em Portugal faz auditoria e contagem das vendas de livros ao longo do ano – e cobrem 82% do mercado, ao passo que as lojas independentes não cobertas pela Gfk têm uma perda superior a 90%, destaca o documento.

Já os livros eletrónicos subiram acentuadamente e também os livros vendidos online, mas “este aumento provavelmente compensa apenas 1% da perda global”, porque “o mercado digital em Portugal é quase inexistente”, destaca.

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