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PSD quer Constâncio de novo no Parlamento. “Não disse a verdade” na CPI à Caixa, acusa partido

Na nova comissão de inquérito à gestão da Caixa, Vítor Constâncio disse, no final de março, que não se lembrava da carta que lhe foi enviada, em 2002, por ex-administrador do da CGD com alertas sobre risco de crédito. Mas antigo presidente do banco, António de Sousa, assegurou hoje que foi informado da existência da carta pelo então governador do Banco de Portugal.
30 Abril 2019, 13h16

O deputado do PSD, Duarte Marques, considera que o ex-governador do Banco de Portugal (BdP), Vítor Constâncio, faltou à verdade no Parlamento e, por isso, quer voltar a chamar Constâncio à nova Comissão de Inquérito Parlamentar à gestão da Caixa Geral de Depósitos  onde, no final de março, o antigo governador  afirmou aos deputados não se lembrar da carta do ex-gestor do banco, Almerindo Marques, que lhe foi dirigida com alertas de risco de crédito.

O pedido dos social democratas surge depois de o antigo presidente da Caixa ,António de Sousa, ter revelado nesta terça-feira, 30 de abril, na nova CPI à Caixa que foi informado pelo então governador do Banco de Portugal da existência da carta de Almerindo Marques, a qual, diz, nunca a leu.

“Tendo em conta o testemunho do Dr. António de Sousa e as contradições com o que disse Vítor Constâncio nesta comissão, o PSD gostaria de pedir um requerimento para seja novamente ouvido o Dr. Vítor Constâncio”, afirmou o deputado do PSD, Duarte Marques, dirigindo ao presidente da nova CPI à CGD, Luís Leite Ramos.

No início da segunda ronda, o deputado do PSD, Duarte Marques, afirmou que Vítor Constâncio “não disse a verdade” nesta comissão quando disse no Parlamento que não se lembrava da carta de Almerindo Marques.

Recorde-se que na mesma comissão parlamentar de inquérito, Vítor Constâncio disse aos deputados que não se lembrava da carta de Almerindo Marques, cujos avisos acabaram por ser ignorados: “Não me lembro. Isso foi há 12 anos? Tanto papel que eu recebi desde então”.

No início da segunda ronda, em resposta ao deputado do PSD, Duarte Marques, o ex-presidente da Caixa sublinhou que “foi uma conversa muito curta [com Vítor Constâncio]”. António de Sousa acrescentou: “percebo que não se lembre do assunto, pois foi uma conversa curta”, realçando que “a carta, em princípio, interessaria mais a mim do que a ele” e foi numa reunião com Vítor Constâncio que o então governador lhe transmitiu ter recebido a carta de Almerindo Marques.

Na primeira ronda, a deputada do BE, Mariana Mortágua, tinha já colocado o tema da carta do ex-administrador do banco, com alertas de risco de crédito comunicados à tutela, ao supervisor e até ao Presidente da República de então.

“Nunca a li”, disse António de Sousa no Parlamento sobre a carta do ex-administrador do banco, com alertas de risco de crédito comunicados à tutela, ao supervisor e até ao Presidente da República de então.

A resposta do ex-presidente da CGD (entre 2000 e 2004) surgiu à questão da deputada do BE, Mariana Mortágua, sobre se o então governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, comunicou-lhe o envio de uma carta, em 2002, com alerta de risco de crédito na CGD, enviada pelo ex-administrador, Almerindo Marques, a várias entidades entre as quais ao Banco de Portugal

“Falou-me da existência dessa carta. Não entregou. Nunca a vi fisicamente. E disse-me que conhecia bem o esforço que estava a ser feito na Caixa, na altura pioneiro, na gestão do risco”, afirmou António de Sousa, que presidiu o banco entre 2000 e 2004 e confirmou, assim, que Vítor Constâncio teve conhecimento daquela missiva.

O ex-presidente do banco assegurou: “Nunca a li”, referindo-se à carta crítica do antigo administrador Almerindo Marques que foi recordada pela deputada bloquista, mariana Mortágua nesta terça-feira, 30 de Abril, na audição a António de Sousa na II Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à Recapitalização da CGD e à Gestão do Banco.

Almerindo Marques saiu da CGD, em 2002, em ruptura com António de Sousa. Sobre estas divergências que levaram o ex-gestor a sair do banco e a apresentar a demissão, o então presidente da Caixa afirma que esse é um tema em que “não estou tão seguro”. E atira: “não sei se algum dia [Almerindo Marques] foi a algum conselho alargado de crédito, porque tinha de controlar todo o backoffice da Caixa”.

 

Carta com alertas de risco foi ignorada por tutela, supervisor e PR

No final de fevereiro deste ano, Almerindo Marques, ex-administrador da CGD (entre 1 de janeiro de 2000 e 14 de janeiro de 2002), confirmou ao Jornal Económico as críticas à política de gestão na liderança de António de Sousa, assegurando que foram transmitidas também ao presidente da CGD e à tutela, tendo os alertas incidido sobre a forma como estava a ser concedido crédito, sem respeitar os critérios rigorosos e a existência de operações não ratificadas em conselho de administração. Estes avisos, diz, constam em três cartas: uma remetida à tutela do banco, outra ao supervisor e uma terceira ao então presidente  da Caixa. Mais. A cópia de todas as cartas foi enviada, em 2002, ao mais alto magistrado da Nação, o Presidente da República.  À data, a CGD era liderada por António de Sousa e Almerindo Marques saiu em choque com o presidente.

Segundo Almerindo Marques, em 2002, também o então governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, ignorou os alertas para falhas no controlo de risco de crédito no banco público e recusou auditoria. Constâncio, afirma, terá alegado que o supervisor “não tinha recursos para mandar fazer uma auditoria” e que não era “conveniente” avançar com base numa denúncia como a que estava em cima da mesa.

Almerindo Marques esteve também em Belém, onde falou com o presidente da República, Jorge Sampaio, e lhe transmitiu as mesmas preocupações, numa reunião realizada a e que foi confirmada ao Jornal Económico pelo gabinete do ex-Chefe de Estado.

“Confirmo que enviei três cartas – ao ministro das Finanças, ao presidente da CGD e ao governador do BdP. Na primeira carta, a [Guilherme d’] Oliveira Martins, transmiti as razões para querer sair do banco, pois era responsável por um órgão que não funcionava bem e era uma desorganização completa. Foquei a política de gestão da Caixa em geral e da Caixa BI e alertei, em particular, para a política de crédito, nomeadamente para situações e financiamentos que estavam a ser concedidos irregularmente”, explicou ao JE Almerindo Marques na edição de 22 de fevereiro.

Dezasseis anos depois do alerta deste ex-gestor do banco que chegou ao mais elevado órgão de soberania, a auditoria da EY à gestão da Caixa que abrange precisamente o período em que Almerindo Marques foi administrador (entre 2000 e 2005) conclui foram vários os créditos de montantes elevados concedidos pela CGD perante pareceres desfavoráveis ou mesmo na ausência de garantias e da posição da Direção de Risco de Crédito. Só no incluídas no Top 25 que a auditora compilou, como sendo as mais problemáticas, “totalizaram 238 milhões de euros, o que corresponde a 13,5% das perdas totais da amostra”, que ascenderam a 1.762 milhões de euros.

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