Blog do João Máximo

Por João Máximo


Bibi Ferreira durante entrevista com Roberto D'Avila — Foto: Tata Barreto/Globo

Não ouso falar muito de Bibi Ferreira depois do que Artur Xexéo exaltou no Globo. Ou depois do que Mauro Ferreira diz aqui no G1. Até porque, não escrevi musical sobre ela, caso do Xexéo, nem sou autoridade em cantoras, caso do Mauro. O máximo que tive foi Bibi, como diretora, dando os retoques finais nas atuações de Cláudio Botelho e Cláudia Neto, num musical sobre canções de Chico Buarque que Luiz Fernando Vianna e eu cometemos. Lembro-me do último ensaio, no João Caetano, Bibi vendo Cláudio no palco e descobrindo nele semelhança física com o pai, Procópio Ferreira, que ela adorava. Cláudio deve ter se orgulhado.

Já se disse tudo sobre Bibi, a atriz, a cantora, a dançarina, a diretora, a musicista, a empresária, a mulher. Foi no falecido Teatro Bloch que Paulo Pontes nos falou, a mim e a Zevi Ghivelder, de seus planos para um musical que seria “Gota d’Água”. Na época, ele estava ali, às voltas com a produção de “Homem de La Mancha”, no qual Bibi seria a Dulcinéia do Quixote Paulo Autran. Apaixonado –– pela mulher e pela atriz –– Paulo Pontes afirmava que só uma Bibi Ferreira teria fôlego e força para ser Joana, uma medeia de favela carioca, que ele e Chico Buarque pretendiam levar para o palco.

Fôlego e força de Bibi, a mulher. Foi desta que ouvi falarem pela primeira vez, quando, garoto ainda, soube quem era a jovem atriz filha do mais famoso Procópio. Impressionava a todos na família a personalidade com que a moça enfrentara os preconceitos de seu tempo. Um tempo em que gente de teatro não prestava, devia ser evitada em nome da moral e dos bons costumes. Foi por ser filha de pai e mãe atores que a adolescente Abigail não pôde se matricular no Colégio Sion, barrada pelas freiras. A coragem, a determinação e a personalidade fizeram com que ela superasse o golpe e se dedicasse à sua arte até morrer. O teatro brasileiro deve à tenacidade de mulheres como Bibi a transformação de gente que “não prestava” em patrimônio de nossa cultura. Já não devêssemos tanto a ela por sua grandeza como atriz, cantora, dançarina, diretora, musicista, empresária, mulher.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!