Por Carlos Brito, G1 Rio


Corpo de Hélio Jaguaribe é velado na ABL — Foto: Carlos Brito / G1

O corpo do acadêmico Helio Jaguaribe foi enterrado às 15h desta quarta-feira (12) no mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul da cidade. Durante o dia, ele foi velado na Sala dos Poetas Românticos, no Petit Trianon, sede da instituição, no Centro da cidade.

Jurista, sociólogo e escritor, Jaguaribe morreu na noite de domingo (9), em sua residência, em Copacabana, no Rio de Janeiro, vítima de falência múltipla dos órgãos. Ele deixou viúva e cinco filhos.

Nono ocupante da Cadeira número 11 da ABL, o intelectual foi eleito em 3 de março de 2005, sucedendo o economista Celso Furtado.

“Meu pai tinha absoluta convicção na força transformadora das ideias e da racionalidade. E isso fazia dele um homem otimista, porque acreditava que com determinação, disciplina e racionalidade, e com a ajuda de pessoas esclarecidas, é possível transformar o mundo e também o Brasil. Durante muitas vezes, enfrentou grandes dificuldades, mas isso jamais diminuiu sua vontade. Do ponto de vista pessoal, era um homem com um encantamento sempre capaz de melhorar seu entorno por meio de sua generosidade, capacidade lúdica e encanto com o mundo”. disse o embaixador Roberto Jaguaribe, filho de Helio.

O também imortal Antonio Cícero disse que Helio Jaguaribe é uma perda para todo o país.

“O Brasil perdeu um de seus maiores intelectuais, um homem que pensava o país de forma muito aguda e profunda. Foi observando as conversas dele com meu pai, quando morávamos nos Estados Unidos, na década de 1960, que decidi direcionar minha vida para o estudo e cultura”, relembrou o escritor, compositor, poeta Antonio Cícero.

O presidente da ABL, Marco Lucchesi, também falou do amor de Jaguaribe pelo país.

“Helio Jaguaribe é um dos nossos últimos heróis. Um homem que não mediu consequências pela própria vida e pelo país que amou acima de tudo. Ele queria o Brasil mudasse e nisso, jogou todas as suas forças intelectuais, pensando em um projeto de inclusão no qual a democracia não é apenas algo abstrato”, disse Lucchesi.

Acadêmico Hélio Jaguaribe morre no Rio aos 95 anos — Foto: Reprodução/JN

Trajetória

Helio Jaguaribe de Mattos nasceu no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 1923, e se formou em Direito, em 1946, pela PUC-Rio.

Em 1952, deu início, com um grupo de jovens cientistas sociais, a um projeto de estudos para a reformulação do entendimento da sociedade brasileira, fundando o Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (Ibesp). Lá, foi secretário-geral e diretor da revista do Instituto, batizada de "Cadernos de nosso tempo".

Coroas de flores fazem homenagem ao acadêmico — Foto: Carlos Brito / G1

Em 1956, constituiu Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), uma instituição de altos estudos, do Ministério da Educação e Cultura, no campo das Ciências Sociais, do qual foi designado chefe do Departamento de Ciência Política.

Hélio Jaguaribe em cena do documentário "Tudo é Irrelevante. Hélio Jaguaribe", dirigido por sua filha, Izabel Jaguaribe, e Ernesto Baldan. — Foto: Divulgação

Por discordar de mudanças na orientação dos institutos, pediu exoneração de ambas as funções em 1959. Passou, então, alguns anos colaborando, sem vínculos permanentes, com diversas instituições acadêmicas, no Brasil e no exterior.

Em 1964, depois de condenar de forma pública o golpe militar, afastou-se do país e foi lecionar nos Estados Unidos. De 1964 a 1966, trabalhou na Universidade de Harvard; de 1966 a 1967, na Universidade de Stanford; e de 1968 a 1969, no Massachusets Institute of Tecnology (MIT).

Retornando ao Brasil em 1969, Jaguaribe ingressou no Conjunto Universitário Cândido Mendes onde, por alguns anos, foi diretor de Assuntos Internacionais. Com a fundação do Instituto de Estudos Políticos e Sociais, em 1979, foi designado decano, função que exerceu até 2003.

Naquela data, completando 80 anos, propôs sua substituição por alguém mais jovem – o escolhido foi o professor Francisco Weffort, ex-ministro da Cultura do Governo Fernando Henrique Cardoso, que foi escolhido para o cargo. Para Jaguaribe foi conferido o título de decano emérito e, nessa função, continuou suas pesquisas.

Por sua contribuição às Ciências Sociais, aos estudos latino-americanos e à análise das Relações Internacionais, recebeu o grau de Doutor Honoris Causa da Universidade de Johannes Gutenberg, de Mainz, RFA (em 1983); da Universidade Federal da Paraíba (em 1992) e da Universidade de Buenos Aires (em 2001).

Em 1996, foi agraciado, por sua contribuição às Ciências Sociais, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Em 1999, o Ministério da Cultura conferiu, por sua contribuição ao desenvolvimento cultural do país, a Ordem do Mérito Cultural.

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