“Estou dilacerada”: o depoimento de uma professora espancada na sala de aula em SC

Atualizado em 21 de agosto de 2017 às 19:42
A professora Marcia Friggi

Publicado no Facebook de Márcia Friggi, professora de Língua Portuguesa e Literatura na empresa Escola Prefeito Germano Brandes Júnior, em Santa Catarina.

DILACERADA

Estou dilacerada. Aconteceu assim:

Ele estava com o livro sobre as pernas e eu pedi:

– Coloque seu livro sobre a mesa, por favor.

– Eu coloco o livro onde eu bem quiser.

– As coisas não são assim. 

– Ahhh, vai se foder.

– Retire-se por favor.

Ele levantou para sair, mas no caminho jogou o livro na minha cabeça. Não me feriu, mas poderia. Na direção eu contei o que tinha acontecido. Ele retrucou que menti e eu tentei dizer:

– Como, menti? A sala toda viu…

Não deu tempo para mais nada.

Ele, um menino forte de 15 anos, começou a me agredir. Foi muito rápido, não tive tempo ou possibilidade de defesa. O último soco me jogou na parede.

Estou dilacerada por ter sido agredida fisicamente. Estou dilacerada por saber que não sou a única, talvez não seja a última. Estou dilacerada por já ter sofrido agressão verbal, por ver meus colegas sofrerem.

Estou dilacerada porque porque me sinto em desamparo, como estão desamparados todos os professores brasileiros. Estamos, há anos, sendo colocados em condição de desamparo pelos governos. A sociedade nos desamparou. A vida… 

Lembrei dos professores do Paraná que foram massacrados pela polícia, não teve como não lembrar.

Estou dilacerada pelos meus bons alunos, que são muitos e não merecem nossa ausência.

Estou dilacerada, mas eu me recupero e vou dedicar a minha vida para que NENHUM PROFESSOR BRASILEIRO passe por isso.

NUNCA MAIS. (Não sei se cometi erro ao escrever, perdoem)