Revelando a origem e a natureza da periferia das megalópoles estelares

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Mosaico com imagens no infravermelho das seis galáxias elípticas massivas a meio da idade atual do Universo que se encontram no Campo Ultra Profundo do Hubble (HUDF). As imagens revelam envelopes estelares, assim como potenciais galáxias satélite. Créditos: Ignacio Trujillo, com imagens do programa de 2012 do HUDF.

O mais detalhado estudo [1] da periferia de galáxias elípticas massivas a meio da idade atual do Universo foi feito por uma equipe internacional liderada por Fernando Buitrago, do IA (Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço [2] e da FCUL (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa). O estudo foi publicado na revista MNRAS (Monthly Notices of the Royal Astronomical Society) e contribui para a compreensão de como as maiores galáxias do Universo evoluíram no tempo.

As galáxias cresceram dramaticamente em tamanho desde o Universo primordial e as galáxias elípticas, em particular, são as maiores galáxias, tanto em tamanho como em massa. Qual o principal fator que provocou o crescimento das regiões exteriores destas galáxias na época mais recente do Universo, foi a pergunta que motivou este estudo.

Nas galáxias em disco, como a nossa Via Láctea, é bastante fácil identificar as suas distintas partes: o bojo central, o disco com os seus braços espirais, e o halo de estrelas envolvendo o todo. Os astrônomos conseguem afirmar, por exemplo, que o halo estelar de uma galáxia de disco é formado sobretudo por estrelas de galáxias satélite que foram engolidas por aquela.

Com galáxias elípticas, porém, é muito mais difícil porque estas galáxias parecem-se muito com uma nuvem de estrelas suave e homogênea.

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Fernando Buitrago

Fernando Buitrago (IA e FCUL) comentou:

Em relação às galáxias elípticas, existem evidências diretas de que estão a decorrer fusões de galáxias satélite, mas é difícil assegurar que os processos que levaram ao crescimento das suas regiões exteriores são os mesmos que vemos a acontecer em galáxias de disco, como a nossa.

Por conseguinte, Buitrago e a sua equipe lançaram-se na investigação da natureza das periferias de um conjunto de galáxias elípticas massivas de quando o Universo tinha metade da sua idade atual, há cerca de 6,2 bilhões de anos. Concentrando a sua pesquisa nos tênues detalhes a grandes distâncias do centro galáctico, só poderiam trabalhar com a mais profunda imagem do Universo alguma vez feita, o Campo Ultra Profundo do Hubble [3] (Hubble Ultra Deep Field, HUDF).

Usando as seis galáxias que satisfazem os seus critérios de investigação e que estão registadas na imagem em destaque, os investigadores demonstraram pela primeira vez a existência de extensos envelopes estelares em galáxias elípticas massivas individuais naquela época da idade do Universo.

A qualidade da informação capturada no HUDF permitiu à equipe caracterizar os halos galácticos individuais e colocá-los no contexto da história evolutiva deste tipo de galáxias. Além disso, Buitrago e a sua equipe concluíram que, para o seu conjunto de galáxias elípticas massivas a meio da idade atual do Universo, as regiões exteriores foram, tal como nas galáxias de disco, formadas sobretudo devido à fusão de outras galáxias. Neste estudo, tentaram ainda identificar nesses halos alguns traços de episódios recentes de fusão galáctica.

Os resultados emergiram da comparação entre a sua amostra de galáxias e simulações matemáticas baseadas no atual modelo de formação e evolução das galáxias. A equipe verificou que, neste caso, a simulação e os dados reais se ajustavam muito bem e que era possível estabelecer paralelismos.

Fernando Buitrago concluiu:

Em galáxias elípticas, não podemos dizer ‘isto é o bojo galáctico e isto é o halo’. Todas as estrelas formam um esferoide gigantesco, como uma imensa bola de rúgbi. Mas quando usamos uma simulação por computador, conseguimos identificar a origem de cada uma das partes da galáxia simulada e comparar com as nossas galáxias reais. Através deste método, conseguimos identificar o processo por trás do dramático crescimento das regiões exteriores destas galáxias, e pudemos explicar como o seu tamanho evoluiu.

Notas

  1. O artigo “The cosmic assembly of stellar haloes in massive Early-Type Galaxies” foi publicado em 9 de janeiro de 2017 na revista MNRAS (Monthly Notices of the Royal Astronomical Society), 2017 stw3382, disponível em https://academic.oup.com/mnras/article-lookup/doi/10.1093/mnras/stw3382
  2. O Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) é a maior unidade de investigação na área das Ciências do Espaço em Portugal, integrando investigadores da Universidade do Porto e da Universidade de Lisboa, e englobando a maioria da produção científica nacional na área. Foi avaliado como “Excelente” na última avaliação que a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) encomendou à European Science Foundation (ESF). A atividade do IA é financiada por fundos nacionais e internacionais, incluindo pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (UID/FIS/04434/2013), POPH/FSE e FEDER através do COMPETE 2020.
  3. Campo Ultra Profundo do Hubble, capturado pelo Telescópio Espacial Hubble em 2004, representa a imagem mais profunda do Universo alguma vez conseguida no visível e no infravermelho próximo. Mostra as galáxias mais distantes que podem ser observadas em luz visível. Observações de campo profundo são observações de longa duração de uma região do céu particular com a intenção de revelar objetos ténues através da recolha de luz que nos chega dessa direção e por um tempo de exposição razoavelmente longo.

Fonte

IA: Revelando a origem e a natureza da periferia das megalópoles estelares

Artigo Científico

MNRAS: The cosmic assembly of stellar haloes in massive early-type Galaxies

._._.

1602.01846 – The cosmic assembly of stellar haloes in massive Early-Type Galaxies

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