Marcio Vieira Gomes, o Delega

Ex- esportista de Muzambinho-MG
por Milton Neves

Marcio Vieira Gomes, o popular "Delega", foi importante figura do romântico mundo esportivo de Muzambinho-MG e do sul de Minas durante as décadas de 50, 60 e 70. O professor faleceu vítima de Mal de Alzheimer.

Chegou a Muzambinho como soldado lotado no quartel da Polícia Militar instalado na cidade no final dos anos 40. Militares de várias partes do estado casaram-se em Muzambinho como o tenente Renê Rodrigues, Tenente Moreira e outras dezenas de "aquartelados".

Delega - porque houve uma época em que, como aposentado, foi delegado de polícia - , mas dedicou mais de 30 anos de sua vida à preparação física e técnica de várias gerações de alunos do CEPSAM, o Colégio Estadual Professor Salatiel de Almeida, de Muzambinho.

No CEPSAM, ele foi professor de Educação Física; era fanático torcedor do Vasco da Gama, montou várias equipes de integrantes da famosa "Fanfarra do CEPSAM" e era também professor de atletismo, jogou futebol como violento e leal zagueiro, e foi técnico de futebol (futsal e campo) por anos e anos.

Casado com Dona Zilda, foi pai de dois filhos - um deles, Marcio Luiz, ex-craque de bola -, e de duas filhas, sendo uma delas uma excelente jogadora de vôlei, Marcio Vieira Gomes, o "Delega", tornou-se uma das mais emblemáticas figuras de todos os tempos da sociedade muzambinhense.

Duro, exigente e implacável, dizia que a preparação física era tão importante quanto a preparação ginasial, colegial e universitária.

Pena que muitos alunos "de ginástica" dele não pensavam da mesma forma, como eu, um sedentário que, burramente jamais praticou o mínimo de esportes que se exige.

Apaixonado pelo "pif-paf", "buraco" e "batida-dura", o querido Delega não dispensava também um bom cigarro Lincoln, sem filtro.

E tinha também na ponta da língua sua maior paixão: o Vasco da Gama de 1929, que ele sempre reverenciava, do goleiro ao ponta-esquerda. Jaguaré, Brilhante e Itália. Tinoco, Fausto e Mola. Pascoal, 84, Russinho, Mário Matos e Santana. O técnico foi Ademar Pimenta.

E, como técnico, Delega "marcou época": em 1962 dirigiu uma seleção sul mineira que enfrentou o Olaria Atlético Clube do Rio, que concentrado em Poços de Caldas, vinha goleando seguidamente por mais de 10 gols em jogos amistosos os times de Alfenas, Poços, Botelhos, Guaxupé, Bandeira do Sul, Varginha, Machado e Campestre.

Na ocasião, ele reuniu os melhores da região e garantiu que "de mim eles não ganham". Escalou-se, já veterano, "de camisa 11 recuado para marcar o artilheiro Jaburu" e disse: "o jogo será 10 contra e 10! Eu e o Jaburu não jogaremos, vou marcá-lo homem a homem", garantiu.

Resultado da peleja: Olaria 14 x 1 Muzambinho. Nove gols de Jaburu.

Três goleiros foram utilizados na partida: Willian Peres Lemos (o Yashin de Minas Gerais), Paulo Pingaiada e Inhaque. Este último era cego de um olho e tomou um gol antológico de Jaburu, de falta.

O jogador do Olaria chutou no canto em que Inhaque não enxergava, e quando a bola já estava no fundo da rede, ele ainda gesticulava tentando orientar a barreira.

Outro fato pitoresco daquela partida aconteceu quando Jaburu já somava oito gols e soltou um petardo incrível, para uma defesa mais incrível ainda de Paulo Pingaiada. O goleirão encaixou, sem dar rebote e desafiou o atacante carioca, rolando a bola em sua direção:

"Chuta de novo, vamos ver se agora você marca", disse Pingaiada.

Jaburu, sem maiores dificuldades, anotou seu nono gol na partida e em seguida Paulo Pingaiada foi substituído por Inhaque, em uma dessas histórias maravilhosas, que o futebol não tem mais.

William Peres Lemos, Paulo Pingaiada e Inhaque,
os goleiros da inesquecível partida em Muzambinho

Vale a pena mais um registro importante sobre Jaburu. O atacante também atuou pelo Fluminense, e estava em campo no dia em que Pelé fez o gol que é considerado até hoje o mais bonito de sua carreira,  e que motivou  o jornalista Joelmir Beting a confeccionar uma placa para o feito, que acabou tornando a expressão "Gol de Placa" uma voz corrente quando alguém se reporta a um gol maravilhoso.
A ficha do jogo entre Fluminense x Santos:
Competição: Torneio Rio São Paulo
Fluminense 1 x 3 Santos
Data: 5 de março de 1961
Gols: Pelé (2), Pepe e Jaburu
Local: Maracanã.
Árbitro: Olten Ayres de Abreu.
Renda: Cr$ 2.685.317,00
Santos: Laércio. Fiotti. Mauro. Calvet e Dalmo. Zito e Mengálvio (Nei). Dorval. Coutinho. Pelé e Pepe (Sormani).
Fluminense: Castilho. Jair Marinho. Pinheiro. Clóvis (Paulo) e Altair. Edmilson e Paulinho. Telê Santana (Augusto). Valdo. Jaburu e Escurinho.

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