Brasil vai entrar no Clube de Paris, dos grandes credores globais, diz jornal
O Brasil vai entrar no Clube de Paris (fórum que gerencia o valor devido a 21 das maiores economias globais), se tornando a primeira grande economia desenvolvida a ingressar no grupo em duas décadas.
Autoridades afirmam que o forte aumento no financiamento tomado pelos mercados emergentes desde a crise financeira encorajou o grupo a expandir seu número de membros, em meio à volta da ameaça de uma crise de endividamento nos países mais pobres.
O último grande emergente a ingressar no Clube de Paris foi a Rússia, em 1997.
A entrada do Brasil formaliza a sua longa participação no clube, já que é há bastante tempo um membro "ad hoc" (que podem participar das negociações), especialmente na reestruturação da dívida de países africanos.
O país é um credor importante de nações como Nigéria, Angola e Moçambique.
"O Brasil é um grande credor e tem um importante papel a desenvolver na comunidade internacional", afirmou Odile Renaud-Basso, chefe do Tesouro francês e presidente do Clube de Paris.
"Isso manda um sinal de que os países emergentes têm um papel maior a exercer nas negociações de dívidas", afirmou a presidente do grupo.
O financiamento externo de países emergentes (sem contar os empréstimos por bancos) dobrou nos últimos sete anos, aproveitando a era do dinheiro barato —graças aos juros baixos dos países ricos—, somando US$ 3,2 trilhões, segundo o BIS (espécie de banco central dos bancos centrais).
À medida que a economia dos EUA se recupera e investidores migram dos mercados emergentes para o das economias desenvolvidas, as taxas baratas de financiamento estão evaporando, aumentando os custos para pagar a dívida e colocando sob pressão os tomadores de empréstimo.
Até o momento neste ano, 27 empresas de mercados emergentes deram calote em suas dívidas, segundo a S&P Global Ratings —o maior número desde 2009.
Para o Brasil, o fato de se tornar membro pleno do Clube Paris é uma declaração da sua resiliência financeira, mesmo com a maior economia da América Latina enfrentando a sua pior recessão em mais de cem anos, dizem autoridades governamentais.
É também uma indicação da determinação do Brasil (a nona maior economia global) em ter um papel mais importante nas questões financeiras internacionais.
Ao lado de China, Rússia e Índia, o país tem sido importante nos esforços para forçar EUA e Europa a cederem mais espaço para os emergentes em instituições internacionais como FMI e Banco Mundial.
O Brasil também é um líder dos Brics (grupo que inclui Rússia, Índia, China e África do Sul), ajudando a estabelecer um banco de desenvolvimento independente para o grupo.
"De certa forma, isso faz parte de um movimento que começou logo depois da crise financeira global", afirmou uma autoridade do governo brasileiro que está a par das negociações com o Clube de Paris.
Desde que o Clube de Paris foi criado, 60 anos atrás, os seus membros reestruturaram ou perdoaram cerca de US$ 600 bilhões em dívidas de 90 países, como Mianmar, Cuba e Iugoslávia.
Uma das suas iniciativas mais conhecidas foi um programa de perdão de dívida para países pobres altamente endividados, como Costa do Marfim e República Democrática do Congo. O Brasil integrou esse programa.
Há preocupações no momento de que os países de baixa renda que se beneficiaram do programa tenham agora novamente voltado a se endividar de maneira insustentável.
Segundo estimativas do FMI, a dívida global é mais de duas vezes o tamanho da economia mundial.
"Nós tivemos taxas de juros muito baixas", afirmou Renaud-Basso, a presidente do Clube de Paris.
"Precisamos tomar cuidado para não repetirmos os erros do passado e não voltarmos a um ciclo de aumento das dívidas", completou.
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