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Crítica: 'Hardwired... to self-destruct' traz Metallica sem pressa e com peso

Banda soltou clipes para todas as músicas antes do lançamento
O Metallica, maior atração da noite, iniciou a apresentação com "Ecstasy of gold", na companhia de um seleto grupo de 110 fãs posicionados em uma arquibancada ao fundo do grupo Foto: Antonio Scorza / O Globo
O Metallica, maior atração da noite, iniciou a apresentação com "Ecstasy of gold", na companhia de um seleto grupo de 110 fãs posicionados em uma arquibancada ao fundo do grupo Foto: Antonio Scorza / O Globo

RIO – Disco do Metallica é um troço que demora mesmo. James Hetfield e Kirk Hammett vão gravando as ideias que saem de suas guitarras — desta vez, começaram com mais de mil riffs, segundo Hammett — e de vez em quando juntam-se ao baterista Lars Ulrich e ao baixista Robert Trujillo no estúdio-quartel-general da banda em San Rafael, perto de São Francisco, na Califórnia, e vão construindo as canções. Não adianta ter pressa.

“Hardwired... to self-destruct”, que chegou às lojas e sites de streaming nesta sexta, é o resultado desse processo ao longo de oito anos, desde que a banda fundada em 1981 lançou “Death magnetic”: mesmo em momentos mais simples, é fácil perceber que se trata de um grupo seguro, que não tem medo de tocar um mesmo riff por trinta segundos e nem se preocupa se uma música passa dos seis, sete ou até oito minutos. No formato físico, o disco é duplo — ou triplo, na versão de luxo.

“Hardwired”, que abre o disco, é a música mais curta, com pouco mais de três minutos de peso e agressividade, sem solo, quase um hardcore — gênero com que a banda flertava em seu início. A canção é um dos três singles antecipados, ao lado das também boas “Moth into flame” (“Mariposa na chama”, possivelmente sem relação com o clássico “As mariposa”, de Adoniran Barbosa) e “Atlas, rise!”. As três dão uma boa ideia do disco: o Metallica sendo Metallica, batendo cabeça ao som dos vocais rasgados de Hetfield, com guitarras e melodias brincando (sem galhofa, claro) à frente da sólida cozinha de Trujillo e Ulrich, azeitada após 13 anos de entrosamento. O minúsculo baterista dinamarquês, aliás, tem no disco uma de suas melhores performances do milênio — ou seja, dos últimos três discos. Se ao vivo ele vai reproduzir levadas como a ultra-agressiva “Spit out the bone” ou a pesadona “ManUNkind”, aí é outra história.

O disco, longo, pesado, pessimista, remete a um quarteto bem resolvido, o contrário da banda caindo aos pedaços retratada no documentário “Some kind of monster” (2004), que mostra as gravações do irregular “St. Anger” (2003).

À qualidade das músicas soma-se a boa ideia dos videoclipes feitos para cada uma das 12 (além de um extra, de “Lords of summer”), de cenas da banda tocando a filmetes de animação (como a ótima “Murder one”, homenagem a Lemmy, do Motörhead, morto em 2015), passando por historinhas como a de “ManUnkind”, em que uma banda de black metal dubla o Metallica, e à da atormentada “Halo on fire”, que aborda a violência contra a mulher, uma balada sinuosa que vai ganhando agressividade.

“Hardwired... to self-destruct” não é um disco fácil. Tempo e paciência para 13 videoclipes, a maioria de seis ou sete minutos, é o mínimo que ele exige. Mas o Metallica paga o esforço com oito anos de juros.

Cotação: Ótimo