France Presse

26/10/2016 16h41 - Atualizado em 26/10/2016 18h00

Número de migrantes mortos no Mediterrâneo bate recorde com 3.800

Um a cada 88 migrantes morreram, contra um a cada 269 em 2015.
Taxa de mortalidade é ainda maior na rota entre Líbia e Itália.

Da France Presse

Foto divulgada pela Cruz Vermelha italiana mostra migrantes sendo resgatados no Mar Mediterrâneo no dia 20 de outubro (Foto: Yara Nardi/Italian Red Cross/AFP)Foto divulgada pela Cruz Vermelha italiana mostra migrantes sendo resgatados no Mar Mediterrâneo no dia 20 de outubro (Foto: Yara Nardi/Italian Red Cross/AFP)

O número de migrantes que morreram tentando cruzar o Mediterrâneo este ano chegou a 3.800, um novo recorde histórico, anunciou nesta quarta-feira (26) o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR).

 

"Podemos confirmar que ao menos 3.800 pessoas morreram ou desapareceram no mar Mediterrâneo desde o início do ano, o balanço mais alto registrado até agora", declarou à AFP WIlliam Spindler, porta-voz do ACNUR.

No ano passado, o saldo total foi de 3.771 mortos.

Este nível tão elevado de mortes ocorre embora tenha diminuído claramente o número de migrantes que tentam cruzar o Mediterrâneo.

No ano passado, mais de um milhão de pessoas tentaram realizar esta perigosa travessia, e este ano já são 330 mil.

Esta forte queda se deveu, em particular, ao controverso acordo de março entre Turquia e UE para frear as chegadas de migrantes à costa grega.

O número de mortes passou de uma para cada 269 migrantes a uma para cada 88 em 2016, destacou Spindler. "Na rota mediterrânea central entre Líbia e Itália, a taxa de mortes é ainda maior, uma para cada 47 chegadas", explicou.

Os traficantes de seres humanos utilizam neste momento barcos de baixa qualidade, como botes pouco aptos para travessias tão longas, e carregados de milhares de pessoas sem nenhum tipo de proteção.

Na rota mediterrânea central, a mortalidade é causada por naufrágios maciços de embarcações de madeira que, após virarem, deixam centenas de pessoas na água, aos quais se somam os que não sobrevivem nos botes superlotados.

Muitos caem na água quando os botes desinflam, outros morrem asfixiados por causa das emanações de combustível, asfixiados pela multidão de passageiros, agredidos por outros migrantes que tentam abrir espaço, afogados no fundo dos botes, queimados pela mistura de gasolina e água do mar, e inclusive vítimas de hipotermia, desidratação ou fadiga após semanas de viagens.

Tudo isto acontece depois de um périplo de meses ou anos, que inclui episódios de detenção e violência quando chegam à Líbia.

E embora se tenha aumentado o número das embarcações de resgate que patrulham a zona em frente à costa da Líbia, as tragédias não diminuem, pois as condições precárias nas quais os traficantes enviam os migrantes levam à morte em poucas horas.

Resgatar milhares diariamente: um desafio
O fenômeno das ondas de partidas de migrantes aumentou este ano, o que traz o verdadeiro desafio de resgatar milhares de pessoas em um mesmo dia e depois, outros milhares no dia seguinte, quando os barcos de socorro seguem rumo à Itália com os primeiros resgatados.

Os 29 mortos encontrados na madrugada desta quarta-feira estavam a bordo de um bote de borracha a 26 milhas náuticas da costa líbia. Provavelmente, morreram asfixiados ou afogados na mistura de água marinha e combustível.

Horas antes, o "Bourbon Argos", navio fretado pela ONG Médicos sem Fronteiras (MSF), tinha resgatado 107 pessoas.

Foram necessárias horas e ajuda da ONG alemã Sea-Watch para recuperar os corpos. "A mistura de água e combustível era tão forte que não pudemos permanecer no bote por muito tempo. Foi horrível", relatou, em um comunicado, Michele Telaro, encarregada da organização a bordo.

Entre os sobreviventes, 23 sofrem de queimaduras provocadas pela mistura de combustível e água marinha. Alguns tiveram que ser evacuados rapidamente para um hospital italiano, entre eles uma jovem em estado crítico.

A equipe do MSF também ofereceu ajuda psicológica aos sobreviventes, particularmente a um homem, cuja esposa está entre as vítimas e ficou sozinho com o filho de 8 anos.

"É uma tragédia, mas infelizmente não se pode dizer que seja um dia excepcional no Mediterrâneo. A semana passada foi terrível para nossas equipes, constantemente comprometidas em operações de resgate em que muitos homens, mulheres e crianças perderam a vida", declarou Stefano Argenziano, encarregado das atividades sobre migrantes da MSF, referindo-se a "uma corrida em meio a um cemitério".

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