Já ouviu falar no "crente zumbi"?


Será que existe o "crente zumbi"?
 

Segundo o folclore holywoodyano, o zumbi é uma espécie de "morto-vivo", ou seja, é uma pessoa que morreu mas ainda permanece interferindo no mundo dos vivos, de forma material.

É claro que, biblicamente, isso não existe, pois os mortos não têm mais qualquer contato com os vivos. Mas esta metáfora parece se encaixar perfeitamente com uma espécie de cristão que nem está "morto" nem "vivo". Como assim?!

Hoje eu quero refletir com vocês sobre a maneira como a Igreja, como instituição humana, costuma tratar alguns de seus membros (suas "ovelhas"). Em todas as congregações é possível encontrar pessoas que já foram vivas e atuantes na igreja, mas que hoje não passam de meros espectadores cultuais ("papa-sermões" como alguns costumam dizer aqui no Nordeste). Em alguns casos, estas pessoas já foram até líderes na Obra, mas que em sua trajetória de vida cristã levaram uma rasteira do inimigo, e não receberam muito apoio para se levantarem. Resultado: viraram "crentes zumbis", pois seu amor pela mensagem de salvação as impede de se voltarem totalmente para o mundão; enquanto que a frieza e rigidez das "normas" e "regulamentos" barram o resgate do vigor espiritual de outrora.

Quero dividir com vocês o exemplo de um ex-pastor, contemporâneo de teologia há uns 18 anos, lá no IAENE. Não citarei nomes, por respeito aos envolvidos. Ficticiamente vamos chamá-lo de PR.

Começo de tudo...

No final da sua adolescência ele conheceu a mensagem Adventista, foi batizado e tornou-se um destacado membro em sua congregação. Foi amor à primeira vista! Ele costumava dizer que a única função que nunca desempenhou foi a de diaconisa, pois todas as outras ele já havia realizado com satisfação. Foi ordenado Ancião, e era o braço forte dos pastores distritais em sua igreja local, com grande influência também em outras igrejas do distrito e região onde morava.

Pouco depois de casado, PR resolveu estudar Teologia, e foi para o IAENE com sua esposa e uma criança pequena. Foram 4 anos de muita luta, sofrimento, lágrimas... e até sangue, para ter seu curso concluído. Seu desejo era servir à Obra do Senhor para o resto de sua vida.

Ele recebeu o chamado para o ministério, e começou a desempenhá-lo em um promissor distrito em uma cidade de dominação católica no interior do Nordeste. Logo de início os irmãos aprenderam a amá-lo (o que não é difícil para quem o conhecia), respeitá-lo e seguir sua liderança. Ele fez daquele distrito morno e sem vida, um dos mais ativos e frutíferos de todo o seu Campo. Suas metas evangelísticas eram audaciosas, e ele conseguia batê-las ano após ano, pois era incansável em seu trabalho pastoral.

Mas o inimigo já havia determinado que a vida de PR seria novamente abalada, e era sua missão destruir aquele bonito ministério. E assim o diabo conseguiu...

PR cometeu um dos 3 pecados imperdoáveis para um pastor Adventista. Infelizmente, desde o seminário os professores já costumavam alertar que as armas que o diabo utiliza para derrubar um pastor são: 

- mulheres, 
- dinheiro ou 
- poder. 

Quantos têm sucumbido diante destas arapucas!

Com apenas 2 anos e alguns meses de ministério pastoral, o jovem PR foi desligado da Obra Adventista. Envergonhado, ele mudou-se com sua esposa e filhos para a capital do Estado onde residiam, para tentarem recomeçar a vida destroçada. Mas outros golpes ainda viriam... Ele e a esposa foram excluídos da Igreja (ela inocentemente, pois pediu para ser desligada junto com seu marido, por entender que estavam sendo exageradamente duros com ele, haja vista que o erro que ele cometeu não merecia tanta intolerância). A filha mais velha adoeceu, e, na época, sem a cobertura do plano de saúde, tiveram que mendigar nos gabinetes de assessores políticos para que a menina fizesse um custoso exame, pois havia suspeita de grave doença. O que acabou por confirmar-se.

Sozinhos, esquecidos pelos ex-colegas de ministério, pelos "pastores" com quem já haviam trabalhado por tantos anos, longe dos familiares, sem poderem trabalhar ativamente na Igreja... o casamento também foi se desgastando. Apenas alguns poucos amigos (verdadeiros) continuaram ao seu lado; ex-colegas, porém, contava-se nos dedos de uma mão aqueles que ainda buscavam algum contato intencional com ele.

Encurtando a história, que é muito longa e triste, PR vive hoje como ex-Adventista. Não prega, não dirige lição na Escola Sabatina; certa vez, foi impedido até mesmo de palestrar em um seminário de estudos na igreja que estava frequentando. Todo o seu potencial foi colocado de lado. O inimigo, com toda certeza, dá gargalhadas quando olha para este jovem ex-pastor.

Constrangido com a situação, ele visitava igrejas diferentes a cada sábado, na esperança de que não o conheçam, não se lembrem dele como "pastor PR". Como eu sou um dos poucos que conhece sua história (até mesmo porque quase ninguém se interessou em ouvi-lo, chorar com ele, emprestar-lhe o ombro...), sei que ele sofre muito, pois ainda é apaixonado pela mensagem que um dia abraçou, e a qual dedicou os melhores anos de sua juventude. Trabalhava até pouco em uma profissão que não lhe trazia muito prazer, que servia apenas para pagar as contas do mês, pois o que ele queria mesmo era estar pregando, dando aconselhamento, dirigindo conferências, classes bíblicas, encontros de casais, de jovens, plantando novas igrejas, etc. Que talento desperdiçado!

Creio que faltou discernimento e tolerância aos que "julgaram" o caso do meu amigo, pois a Bíblia dá claras evidências de que a maneira como Jesus tratava casos semelhantes era muito diferente. Lembram de Manassés? De Davi? De Madalena? De Pedro? De Marcos? Infelizmente não apareceu nenhum "Barnabé" na vida do PR quando ele mais precisou. Apenas os "doutores da lei" que, como Paulo, não tiveram disposição em oferecer-lhe uma segunda chance.

Como Igreja, os Adventistas têm uma linda e poderosa mensagem de justificação pela fé, de perdão, de restauração, de transformação de vida. Mas, muitas vezes, temos nos esquecido de praticar esta libertadora Verdade.

Setenta vezes sete... cremos mesmo nisso?! Ou achamos que um erro repetido não merece perdão?!
 

"Eu também não te condeno"... se Ele proferiu tais palavras, por que nós, miseráveis pecadores, insistimos em nos condenar mutuamente?!
 

"O Deus da segunda chance"... será que esta frase só ganha significado quando utilizada em algum arranjo musical?!
 

"Senhor, quando foi que Te vimos com frio, fome, nu...?" - nossos olhos estão fechados de tal forma, pela "letra da lei", que não conseguimos enxergar Jesus naqueles que mais necessitam dEle.

Há alguns anos, estudamos um trimestre inteiro (por 13 semanas!) sobre a REDENÇÃO EM ROMANOS, mas a maravilhosa mensagem daquele livro parece não passar de teoria na vida de muitos, especialmente líderes e "pastores". Como em quase toda Lição de ES, virou o trimestre, esquecemos o que estudamos... Qual foi mesmo o tema do 1º trimestre de 2015???

Um "crente zumbi", é assim que eu definiria o meu amigo PR. Já o aconselharam até mesmo a mudar de denominação, e procurar uma que o aceite e lhe dê uma outra oportunidade de servir a Deus como pastor. Até oferta em assumir uma Igreja dessas que também "guarda" o sétimo dia ele recebeu. Mas ele ama a Igreja Remanescente, e não consegue frequentar uma que o aceite, mas que rejeite a fé que ele guarda no coração. Por outro lado, o "sedentarismo espiritual" está minando sua vida religiosa, deixando-o cada vez mais vulnerável ao golpe fatal do inimigo.

Para afundá-lo ainda mais, há alguns anos ele separou-se da esposa, pois a convivência já estava quase insuportável. 

- Sabe quantos ex-colegas o visitaram ou mandaram um simples e-mail de apoio, desde que começou esta tempestade em sua vida? 
- Sabe quantos secretários ministeriais se preocuparam em ligar para ele para saber como estava sua família, sua vida, suas dores? 
- Sabe quantas vezes o presidente que o dispensou do ministério foi em seu lar para orar com ele, e tentar resgatar esta alma que se estava desgarrando do rebanho?

Espero que PR esteja no Céu, junto com sua ex-esposa, filhos e amigos verdadeiros. Mas fico imaginando qual seria a reação daqueles que o encontrarem lá, mas que não fizeram nada para ajudá-lo a vencer os desafios da jornada...



Resolvi trazer este assunto aqui porque sei que existem muitos outros "zumbis" em nossos arraiais; muitos "cães sem dono", abandonados à beira da estrada da vida... 

"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"... foi um homossexual quem transformou essas palavras em verso... mas elas exprimem um sentimento que deveria (sim, deveria) ser a tônica do Evangelho que hoje pregamos.

Reserve um tempo para orar por este jovem ex-pastor, pois o diabo não merece ser vitorioso em mais esta batalha... e se você conhece algum "zumbi", aproveite para orar e enviar um "alô", para que ele saiba que alguém sente sua falta.

"mas onde abundou o pecado, superabundou a graça" (Rom. 5:20)


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Comentários

Anônimo disse…
Entendo perfeitamente a questão em pauta...também sofro com essa questão sou hoje um zumbi... nasci e cresci em um lar adventista... sempre fui mt ativa na igreja... mas as flechas do inimigo foram lançadas dentro do meu lar...e hoje frequento uma igreja adventista onde não apareço lá a dois meses pois estamos passando por uma crise familiar...e nem o ancião nem o pastor ainda veio nos visitar... faço parte do grupo da escola sabatina da igreja e ninguém é capaz de dizer que está sentindo falta da nossa família...nem pergunta o que está acontecendo...sei que a dor do seu amigo é a mesma que a nossa...tenho até mesmo evitado de ir a igreja por não me sentir do rebanho...
Gilson Medeiros disse…
Cara anônima, infelizmente esta situação tem sido mais comum do que deveria.

Mas, por experiência própria, eu te sugiro: não se afaste demais da igreja. Mesmo ela estando cheia de pessoas egoístas e de "joio", lá existem muitos servos de Deus que estão desejosos de estender a mão para você.

Ore ao Senhor, e volte a frequentar uma igreja Adventista na qual você sinta-se bem-vinda... Lembre-se que uma brasa logo se apaga quando está longe da fogueira... mesmo que a "fogueira" também não esteja tão acesa assim.

Que o Senhor te abençoe e te guarde.

Um abraço
Gilson.
A.K.Renovatto disse…
É um texto mesmo para refletir! Eu tento entender esse assunto, olhando os dois lados da moeda! Claro que o dever de uma Igreja é acolher e perdoar quem pecou e não afundá-lo mais ainda. No caso de um pecado de pastor ou um líder de jovens, ou de congregação, é um pouco mais delicado. Claro que são homens como qualquer outro, mas espera-se que o líder (seja de igreja, ou de jovens, ou de adolescentes etc) tenha uma conduta exemplar. Um pastor que peca merece perdão, porém, se ele permanecer atuando como pastor, dando sermões, muita gente não dará nenhum crédito às suas pregações! Vamos dar um exemplo: um líder adulterou e o caso vêm a público. Se ele continuar atuando e pregando, sua conduta sempre estará sendo colocada à prova, mesmo que tenha se arrependido e mudado suas atitudes! Creio que é por isso, que algumas igrejas acabam não dando mais oportunidade de um ex pastor, voltar a atuar como líder. Claro que essa pessoa que errou deve receber visitas, e um apoio para continuar na caminhada cristã, mas alguns casos trazem tanto escândalo, que se a igreja voltar a dar a mesma oportunidade de cargo, muitos membros vão murmurar, outros vão se escandalizar, outros podem até apoiar (ou seja, a igreja se divide). Acho que nesses casos, depois de esperar a "poeira abaixar", e a pessoa ter já cumprido o período de disciplina, sendo afastado de seu cargo, a igreja pode dar outras oportunidades do (ex pastor, ou líder de jovens etc) ser ativo em outras funções. Geralmente, dependendo da gravidade do erro, infelizmente, voltar para o mesmo cargo de sempre torna-se inviável, ao meu ver, pelos motivos citados. Como os membros de uma igreja vão receber um sermão contra o adultério, sendo que o palestrante teve um caso de adultério que veio a público? Ou ouvir um sermão sobre abuso de poder, corrupção, sendo que houve no passado de um líder um caso desse tipo que veio a público? Isso poderá ser visto pelos membros como hipocrisia. Sei que posso estar parecendo ser muito radical, mas como disse, eu olho os dois lados da moeda. Entendo que a Igreja deve sim dar amor, perdoar e visitar, não deixar a pessoa que pecou sozinha no momento delicado. Entendo que mais tarde, a pessoa pode ter outras oportunidades de atuar em outros projetos (na Igreja há muitos projetos além do cargo de pastor ou líder), mas de modo que não vá causar mal-estar na igreja e divisão entre membros .Sabemos que mimimi demais dentro de uma igreja, é horrível para o desenvolvimento dela. Gostei da reflexão que seu texto trouxe! Sobre seu amigo PR, espero que Deus use alguém com amor e sabedoria, para auxiliá-lo e não deixar ele desistir da caminhada cristã! Que ele possa ainda ter oportunidade para ser ativo na obra do Senhor, mesmo que em outros projetos!





A.K.Renovatto disse…
Me senti sendo tão radical no comentário acima, que voltei para me desculpar caso tenha parecido ser sem misericórdia e amor! Só acho que quando se trata de um líder, se o pecado vêm a público, se torna bem mais delicado, do que o pecado de um membro sem cargo. Sou a favor do perdão, do acolhimento. Só que em casos que vai a conhecimento do público, complica depois trazer de volta ao cargo o tal líder X! Se o caso não é público, dá para resolver melhor e havendo mudança e arrependimento, dá até para o líder faltoso voltar a ser ativo depois de um tempo afastado. Entendo que o ex pastor PR deve mesmo estar sofrendo! Infelizmente, um líder sempre será mais cobrado que o resto da igreja, mesmo ele sendo ser humano falho como qualquer outro! E creio que a Igreja no geral, deveria dar oportunidades de uma pessoa que errou no passado, voltar a ser ativo. Se não der para voltar ao cargo que exercia antes, que arrume outro trabalho na Obra do Senhor para ajudar a pessoa que errou a voltar a se sentir útil e amado! Achei que devia explicar isso melhor, porque posso ter parecido frio e sem misericórdia e não é isso! Sou a favor do perdão sempre! Deus o abençoe! É um tema polêmico e meu comentário obviamente é só minha opinião, não uma regra! rsrs
Fernando Souza disse…
Entendi o que vc quis dizer Renovatto e concordo contigo no tocante a um líder,pastor!Agora sobre o tema devemos olhar para os faltosos como cristo nos olha,vide Isaías 43:25,porém o perdão é da natureza de Cristo e a nossa é julgar em demasia.
Eu como líder e ancião da igreja erro muito nisso e estou me renovando lendo Caminho a Cristo ,o Desejado De todas as Nações(lindo)principalmente quando há o caso na "casa de Simão"Ali Cristo eleva de forma extraordinária a mulher pecadora a despeito do que pensava judas e Simão.Eu chorei de alegria em meditar de como nós temos um Deus amoroso e perdoador,educado,paciente,cortês,e onde os "menores"cristãos tem acesso junto ao Pai de forma intíma!
Dou a recomendação de leitura para os líderes de igreja:"Igreja positiva em um mundo negativo" e "Procura-se um bom pastor"Ambos de autoria do Pr Arrais(o pai).Muito bom Pr Gilson e Renovato os seus comentarios!